27/10/2008

Hinduísmo e Budismo



Hinduísmo e Budismo

São duas religiões estreitamente entrelaçadas, em alguns momentos paralelas, mas fundamentalmente opostas em teoria e prática.
A religião Védica, a Budista e a Jainista compartilharam uma cultura comum (regional) situada aproximadamente ao norte e leste da Índia - atualmente Uttar Pradesh Oriental, Bihar e Nepal. Foi nesta região que o Brihadaranyaka o mais antigo dos Upanishads foi elaborado, no reinado de Janaka de Mithila. Tanto Sidarta Gautama o Buda, como Mahavira o fundador do Jainismo nasceram nessa região.
Na Índia antiga havia duas correntes de pensamento filosófico, as tradições dos Shramanas e a Védica que coexistiram lado a lado, por muitas centenas de anos e se influenciaram mutuamente. Tanto o Budismo como o Jainismo são prolongamentos das tradições Shramanicas; Analogamente, o moderno Hinduísmo é uma extensão da tradição védica. Também os Upanishads originados da tradição védica exerceram considerável influência no Budismo primitivo.

Gautama, o fundador do budismo, rejeitou em grande parte a autoridade dos Vedas e dos Upanishads, principalmente, com relação à doutrina da liberação (moksha). Ele redefiniu a cosmologia indiana, incorporando muitos termos védicos em sua doutrina, mas redefiniu-a para explicar o Caminho do Meio, também ensinou que, para alcançar o nirvana (extinção das ilusões) não se deve aceitar a autoridade das escrituras ou a existência de Deus.
O Budismo atingiu seu apogeu no subcontinente indiano, mas foi sobrepujado pelo hinduísmo com o desenvolvimento do vedanta. Inversamente, o budismo floresceu fora da Índia: na forma vajrayana predomina no Tibet, região do Himalaia; na forma theravada, no Sri Lanka e Sudeste da Ásia, e como mahayana na Ásia Oriental.

Semelhanças entre o budismo e o hinduísmo
Ahimsa é um conceito religioso que estabelece a não-violência e o respeito por qualquer vida. A ênfase em ahimsa, de não causar danos a todos os seres, foi uma ampliação da rejeição Budista aos rituais sacrificiais da religião védica, com sacrifícios humanos inclusive. Essa visão ampliada de Ahimsa também foi adotada por outras tradições Sramanicas. Os Upanishads em suas críticas aos rituais Védicos enfatizam a interiorização do significado e do simbolismo e não sua realização.
A explicação de Buda sobre o karma no Culakammavibhangasutta desafia a ideia Védica de que a realização de sacrifícios acrescenta benefícios e glórias. Buda defende a opinião de que matar intencionalmente seres vivos não conduz ao bem, mas a algo que era problemático aos brâmanes que aspiravam uma longa vida, ou seja, a ampliação do tempo de vida.

Dharma

Dharma ou Dhamma, no budismo, conduz a dois significados: A- Os ensinamentos do Buda que conduzem à iluminação. B- Os fatores constitutivos do mundo fenomenal.
Este termo não tem conotações sectárias, mas simplesmente significa "O Caminho do Despertar" e, portanto, está relacionado ao entendimento universal do dharma.
"Dharma" normalmente se refere não só aos ensinamentos do Buda, mas às concepções das posteriores tradições, incluindo as várias escolas do budismo que se desenvolveram para elucidar e expandir os ensinamentos do Buda. As qualidades do Dharma são as mesmas qualidades do Buda e formam seu "corpo verdade" ou "DharmaKaya”.

Também, "dharma" pode ser visto como a fundamental e transcendente verdade que está além do mundo fenomenal. Dharma é uma das Três Jóias do budismo, onde os praticantes do budismo procuram refúgio. As três jóias do Budismo são: Buda (espírito da perfeição e busca da iluminação), Dharma (ensinamentos e métodos), e Sanga (comunidade de seres iluminados aptos a fornecer orientação e apoio).

Ao rejeitar a existência de entidades eternas, a filosofia budista abhidharma enumerou setenta e cinco dharmas, postulou que estes "fatores constitutivos" são os únicos tipos de entidade que realmente existem. Esta noção é de particular importância para a análise da experiência psicológica humana: Ao invés de supor que os estados mentais são inerentes a um determinado objeto de cognição ou alma como substância, os filósofos Budistas propuseram que os estados de consciência só existem como "elementos momentâneos de consciência", e que um observador subjetivo é requerido.

Um dos princípios centrais do budismo é a negação do “Eu” (Self) como distinta e permanente entidade e, é caracterizado através dos três signos da existência: 1. Duḥkha (pali: Dukkha), sofrimento, 2. Anitya (pali: Anicca), devir ou impermanência, 3. Anātman (pali: Anatta), Não-Ser.

Mais tarde, os filósofos budistas como Nāgārjuna propuseram várias questões: Os dharmas (elementos momentâneos de consciência) tem realmente existência separada deles próprios? (isto é, eles existem além de alguma coisa mais?). Rejeitando qualquer realidade inerente aos dharmas, ele perguntou (retoricamente): Se todos os dharmas são vazios, o que é infinito? O que tem um fim? O que é infinito e com um fim? O que não é infinito e não tem fim? O que é que é? O que é outro? O que é permanente? O que é impermanente? O que é impermanente e permanece? O que é o nada? Não há nenhum dharma além do ensinado pelo Buda ... Mūlamadhyamakakārikā, nirvāṇaparīkṣā, 25:22-24

Dharma nas escrituras budistas tem uma variedade de significados, incluindo "fenômeno", e "natureza" ou "característica". Dharma significa também "conteúdo mental", e está correlacionado com Citta, que significa mente. Nos principais sutras (por exemplo, o Mahasatipatthana sutra), a correlação Dharma / Citta é paralela à associação de Kaya (corpo) e Vedana (sensações e sentimentos), o que ocorre dentro do corpo é vivenciado através da mente.
Dharma também é usado para se referir aos ensinamentos de Buda, e não simplesmente ao contexto das palavras de um homem, mesmo de um homem esclarecido, mas como reflexo da lei natural, que foi re-descoberta por este homem e que a partilha com o resto do mundo. Uma pessoa que vive a sua vida com uma compreensão da lei natural, é um "dhammic" , que é traduzido como "justo".
Dharma in Buddhism: Wikipedia

Dharmaśāstra: Wikipedia

Karma
Karma é uma palavra Sânscrita que significa ação ou atividade e, que determina seus resultados (também chamada de karma-phala, "os frutos da ação"). É comumente entendida como o ciclo completo de causa e efeito, tal como descrito em inúmeras filosofias e, também, no Budismo e no Hinduísmo. A compreensão geral do karma no Hinduísmo é que as pessoas passam por determinadas experiências em sua vida como resultado de ações prévias.

Reencarnação
Os primeiros registros do conceito de reencarnação se encontram nos Upanishads.
Segundo o Hinduísmo, a alma (Atman) é imortal e transcende ao tempo e ao espaço, mas o organismo está sujeito ao nascimento e morte. Karma como resultado das próprias ações é a força que determina a próxima reencarnação. O ciclo de morte e renascimento, regido pelo karma, é chamado de samsara.

O Buda negou a existência de um eterno e imutável Self (Atman), como algo impermanente e que não tem existência real pode transmigrar? Ao mesmo tempo, as escrituras budistas regularmente discutem a vida futura e as vidas passadas dos seres vivos e, a reencarnação é amplamente aceita entre os budistas. Os detalhes da reencarnação ou renascimento - o processo pelo qual o final de uma vida dá origem a outra - são explicadas em termos Budistas em várias escrituras.

Yoga
O Yoga está intimamente ligado às crenças religiosas e às práticas de ambos, budismo e hinduísmo. No entanto, existem diferentes variações na utilização da terminologia yoga nos dois sistemas. No hinduísmo, o termo "Yoga" comumente refere-se aos oito membros do Yoga, tal como definido no Yoga Sutras. Enquanto, no Budismo Vajrayana do Tibete, o termo "Yoga" é usado como referencia a qualquer tipo de prática espiritual.

Zen Budismo
Zen é uma forma de budismo mahayana. A escola do budismo Mahayana é vista pela sua proximidade com o Yoga. No ocidente, o Zen é muitas vezes ligado ao Yoga, pois as duas escolas de meditação exibem evidentes semelhanças. O Zen Budismo associa suas raízes às técnicas do yoga que são importantes tanto para o budismo, em geral, como para Zen, em particular.

Nirvana
A palavra nirvana (pali: Nibbana) foi inicialmente utilizada no budismo, e não pode ser encontrada em qualquer um dos Upanishads pré-budista. A utilização do termo no Bhagavad Gita pode ser um forte sinal da influência Budista sobre pensamento hindu.

Simbolismo
Mudra é um simbólico gesto de mão que expressa uma emoção. Buda é frequentemente representado desempenhando um Mudra. O Dharma Chakra que aparece na bandeira nacional da Índia é um símbolo utilizado por ambas as religiões. Rudraraksh é um colar de contas que os devotos, normalmente monges utilizam para a prática de mantras. Tilak, muitos devotos hindus marcam a testa com um tilak, que é interpretado como um terceiro olho. A mesma marca é uma das características físicas do Buddha.

Suástica
A suástica é um símbolo usado para afastar o mal. Ela pode ser orientada tanto no sentido horário ou no sentido anti-horário e ambas são frequentemente encontradas no Hinduísmo e no budismo. O Buda é por vezes é representado com uma suástica em seu peito ou nas palmas das suas mãos.

Diferenças entre as duas religiões
Gautama Buda (nos agamas) estabelece a concepção importante do não-teísmo no budismo, negando a noção de um Deus eterno e onipotente.
No entanto, em muitas passagens do Tripitaka, Buda falou de deuses (devas) e dá exemplos específicos de indivíduos que renasceram como determinados deuses, ou deuses que renasceram como seres humanos.

Atman
No Hinduísmo, a alma, Atman (Self) é considerada a parte essencial de uma pessoa e é negada pelo Budismo, sendo uma das principais diferenças entre os dois sistemas. Termos como anataman (Não-Self), ausência do eu; Nada, e vazio (shunyata) estão na essência de todas as tradições budistas. A compreensão do anatman constitui a base para a iluminação de um Arhat, bem como para a plena iluminação de um Buda.

Os ensinamentos de Buda não admitem as simples limitações humanas como ignorância, medo, fraqueza, e desejo, mas tem como objetivo tornar o homem iluminado pela remoção e eliminação desses obstáculos, atacando-os em suas próprias raízes. De acordo com o Budismo, as nossas idéias sobre Deus e alma são falsas e ilusórias. Embora, considerando teorias altamente desenvolvidas, elas continuam as mesmas, apenas projeções mentais extremamente sutis, envoltas por uma intrincada fraseologia filosófica e metafísica. Estas idéias estão tão profundamente enraizadas no homem e são tão familiares, que ele não quer ouvir, nem quer entender qualquer ensinamento contra elas. O Buda sabia muito bem disso , na verdade, ele disse que seus ensinamentos se orientavam "contra a corrente," contra os desejos egoístas do ser humano.

Citta
Juntamente com o referido conceito de vazio (shunyata) das tradições budistas, a atitude do bodhicitta é vista como um dos principais aspectos na busca da plena iluminação. Bodhicitta é definido como o desejo que leva todos os seres sencientes à iluminação, e para tal, almeja tornar-se o próprio Buda. "Bodhi", iluminação, e ‘Citta' mente formam uma associação que pode ser traduzida como uma mente que aspira a iluminação. Este conceito é desconhecido no Hinduísmo.

Buddhism and Hinduism: Wikipedia
Buddhism: Encyclopedia Britannica (1911)
Wikpedia: Buddhist philosophy
Wikipedia: History of Buddhism
Wikipedia: Buddhism
The Berzin Archives: Buddhism Theachings

Um comentário:

FRANÇA disse...

Excelente texto, parabéns!