26/01/2018

História do Hinduísmo


História do Hinduísmo


Raízes históricas

A primeira religião pré-histórica que pode ter deixado seus vestígios no hinduísmo vem do mesolítico, como mostram as pinturas rupestres nos abrigos rochosos em Bhimbetka datando de 30.000 AC. As gravuras descrevem a vida dos residentes das cavernas com desenhos de gravidez, nascimento, ritos religiosos, enterro, meio ambiente, animais, divindades e danças. Ainda não se encontrou evidências de que existam semelhanças entre as comunidades tribais pré-históricas e as contemporâneas.
Algumas das práticas religiosas atuais podem ter origem em 5.000 AC nas civilizações de Harappa e Mohenjo-daro no vale do Indu, onde foram encontrados, em muitas casas, altares de tijolos cozido, sugerindo os rituais védicos de fogo, yajna. Também surgem os primeiros sinais do culto ao Senhor Shiva. Esta cultura perdurou por 3.000 anos e terminou por volta de 1700 AC.

As Civilizações do Vale do Indo


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Era Pré Harappeana

Mehrgarh (7000 AC até 2500 AC)

De acordo com Ahmad Hasan Dani, essa descoberta mudou todo o conceito da civilização do Indo [...] Lá, temos a seqüência completa, desde o início do estabelecimento da vida em aldeias. Mehrgarh é um dos mais antigos locais com evidências de agricultura e pastoreio no sul da Ásia.
Os primeiros residentes de Mehrgarh moravam em casas de tijolos de barro, guardavam seus grãos em celeiros, usavam ferramentas produzidas com minério de cobre local e demarcavam seus grandes recipientes com betume. Eles cultivaram cevada de seis linhas, trigo einkorn e emmert, jujuba e tâmaras, e criavam ovelhas, cabras e gado. Os residentes do período posterior (5500 AC a 2500 AC) desenvolveram o artesanato, incluindo instrumentos de sílex, curtimento, produção de miçangas e trabalho em metal. Em 2001, o arqueólogo que estudava os restos de dois homens de Mehrgarh fez a descoberta de que o povo da civilização do Vale do Indo tinha conhecimento do proto-odontologia. De acordo com Parpola, a cultura migrou para o Vale do Indo e tornou-se a civilização do Vale do Indus.

Eras Harappeanas (3.300 AC - 1.700 AC)


A civilização do Vale do Indus, em seu apogeu, atingiu uma população de mais de cinco milhões. Os habitantes do antigo vale do rio Indus desenvolveram novas técnicas de artesanato (produtos de cornalina, escultura de selos) e metalurgia (cobre, bronze e chumbo). As cidades do Indus são conhecidas pelo seu planejamento urbano, casas de tijolos cozidos, sistemas de drenagem elaborados, sistemas de abastecimento de água e conjuntos de grandes edifícios não residenciais. Seus selos comerciais decorados com animais e seres míticos, indicam que realizaram um comércio próspero com terras tão distantes quanto Suméria no sul da Mesopotâmia.
Marshall com base na descoberta de várias figurinhas femininas supôs existência de um culto da Deusa Mãe imaginando ser o precursor do Shaktismo (Culto Hindu da Mãe Divina). Entretanto, pesquisas arqueológicas da Civilização pré-védica do Vale do Indo não chegaram a qualquer evidência de atividade religiosa pública como a construção de grandes templos, porém há registros de que essa civilização não era totalmente secular. Em uma necrópole descoberta, apesar de não se encontrar nenhum elaborado funeral real, foram achados bens pessoais enterrados com os corpos que podem indicar que essas pessoas acreditaram em uma vida post-mortem e precisariam dessas coisas.


A figura, ao lado, representa um selo do Vale do Indo com a imagem de Pashupati sentado em posição do yoga, também, foram encontradas estatuetas de Pashupati com chifres sofisticados. Pashupati é comumente visto ao redor da criação, sendo chamado o Protetor dos Animais, é considerado no Hinduísmo o protótipo do ascético Deus Shiva.
A civilização do vale do Indo também foi chamada de "Civilização Indus-Sarasvati", em razão do rio Ghaggar-Hakra ter sido identificado com o 'mitológico' rio Sarasvati, sugerindo que a civilização do vale do Indus era a antiga civilização védica, tal como é percebida pelas crenças tradicionais hindus.
A civilização do vale do indo obteve grande precisão na medição de comprimento, massa e tempo. Foram os primeiros a desenvolver um sistema de pesos e medidas coerente. A menor divisão da escala de marfim encontrada em Lothal, foi de aproximadamente 1,704 mm. Os engenheiros Harappeanos seguiram a divisão decimal de medição para todos os propósitos práticos, incluindo a medida de massa; O conjunto de medidas de massa era formado por formas geométricas regulares, hexaedros, barris, cones e cilindros evidenciando conhecimentos básicos de geometria. O conjunto de massores estavam numa proporção de 5: 2: 1 com pesos de 0,05; 0,1; 0,2, 0,5; 1; 2; 5; 10; 20; 50; 100; 200 e 500 unidades, unidade com peso de aproximadamente 28 gramas, semelhante à onça imperial inglesa. Os pesos e medidas utilizados no Arthashastra de Kautilya (século IV AC) são os mesmos que os utilizados em Lothal.
A linguagem Harappeana não está, ainda, bem identificada e sua afiliação é duvidosa, uma vez que seu script ainda não foi decifrado. Alguns estudiosos sugerem um relacionamento com a família Dravidiana ou Elamo-Dravidiana.

Cultura Dravidiana

Povoação Dravidiana
         A origem dos Dravidianos é um assunto muito complexo que envolve muita pesquisa e debate. Os Dravidianos podem ser considerados nativos do subcontinente indiano, bem como oriundos da Asia ocidental.
Os falantes dravídianos devem ter se espalhado por todo o subcontinente indiano antes do início da migração indo-ariana. Atualmente, os falantes das línguas dravidianas ocupam principalmente a parte sul da Índia. De acordo com Carole Davies, "muitos pesquisadores acadêmicos têm tentado ligar os Dravidianos aos remanescentes da grande Civilização do Vale do Indo (IVC)", sendo o mais notável Asko Parpola, que fez uma extensa pesquisa sobre o script do IVC tentando sua decifração.

A antiga religião dravidiana constituí uma forma não-védica do hinduísmo, na medida em que, segundo indícios é baseada nos Āgamas (que incluem alguns Tantras). A origem dos Agamas não está clara. Alguns são védicos e outros não-védicos. Os Agamas são uma coleção de escrituras inicialmente em tâmil e depois em sânscrito que tratam principalmente dos métodos de construção de templos, criação de murti, meios de adoração de deidades, doutrinas filosóficas, práticas meditativas, etc. O culto da deidade tutelar, da fauna e da flora sagradas no hinduísmo também são reconhecidas como sobrevivência da religião dravidiana pré-védica.
A influência linguística dravidiana sobre a primitiva religião védica é notória, muitas dessas características já estavam presentes na linguagem do Rigveda (c.1500 AC), Isso representa uma incipiente fusão religiosa e cultural entre os antigos dravidianos e os indo-arianos, e se tornou mais evidente ao longo do tempo com a iconografia, a filosofia, a flora e fauna sagradas. Também influenciou o hinduísmo, o budismo, Charvaka, os Sramanas e o Jainismo.

Era Védica (1.750 - 500 AC)

Indra
        A religião védica era a religião dos indo-arianos, e apareceu no norte da Índia por volta de 1750 AC (ou bem antes). Considerada, um ramo da família das línguas indo-européias, originada na cultura Kurgan das estepes da Ásia Central.
        As crenças e as práticas da era védica inicial foram intimamente relacionadas com a hipotética religião proto-indo-européia, e com a religião Indo-iraniana. De acordo com Anthony, a religião do 'antigo indico', a língua do RigVeda, provavelmente surgiu entre os migrantes indo-europeus na região entre o rio Zeravshan (atual Uzbequistão) e o atual Irã atual. Era "uma mistura sincrética de elementos da Ásia Central e novos elementos indo-europeus", incorporando "crenças e práticas religiosas" da Cultura Bactria-Margiana (BMAC). Pelo menos 383 palavras não-indo-europeias foram emprestadas dessa cultura, incluindo Indra e Soma. De acordo com Anthony: "Muitas das qualidades do deus indo-iraniano do poder/vitória, Verethraghna, foram transferidas ao adotado deus Indra que se tornou a divindade central no desenvolvimento da cultura do 'antigo índico'. Indra foi homenageado com 250 hinos, um quarto do RigVeda. Ele estava mais associado a Soma (que também era um cogumelo alucinógeno, provavelmente importado da religião da BMAC) do que qualquer outra divindade".

Migração Indo-Aryana
        Os Indo-Arianos se separaram dos iranianos por volta de 1800-1600 AC, depois de terem sido derrotados e divididos em dois grupos pelos iranianos, que dominaram a zona de estepes da Eurásia Central (e os expulsaram da Eurásia Central). Um grupo, os indo-arianos fundou o reino Mitanni no norte da Síria (c. 1500-1300 AC). O outro grupo era o povo védico, que foi perseguido pelos iranianos "para o Oriente Próximo até o Levante (as terras do litoral do Mediterrâneo oriental), e do Irã para a Índia". 
        Os indo-arianos eram pastores que migraram para o noroeste da Índia após o declínio da civilização do vale do Indo. As raízes desta cultura voltam-se para a cultura Sintashta, com sacrifícios funerários que mostram paralelos íntimos aos ritos funerários dos sacrifício do RigVeda.
               Durante o período védico primitivo (c. 1500 a 1100 AC), as tribos védicas eram compostas por pastores, vagando pelo norte da Índia. Após 1100 AC, com a introdução do ferro, as tribos védicas deslocaram-se para a planície ocidental do Ganges, adaptando-se a um estilo sedentário de vida agrário. Surgiram formas de estado rudimentares, das quais a tribo e o reino de Kuru eram os mais influentes. Foi uma união tribal que se resultou na primeira comunidade estatal registrada no sul da Ásia em torno de 1000 AC, que mudou decisivamente a herança védica da forma anterior, agrupando os hinos védicos em coleções e desenvolvendo novos rituais que ganharam posição destacada na civilização indiana como os rituais srautas ortodoxos que contribuíram para a chamada "síntese clássica" ou "síntese hindu".

Mantra Pushpam Yajur Veda
       Os Vedas são os textos mais antigos da literatura indiana. Os deuses no Rig-Veda são principalmente personificações de conceitos cosmológicos, dividem-se em duas categorias: devas (deuses da natureza), tais como Indra deus dos deuses ("deus do raio e da guerra"), Agni ("fogo"), e Ushas ("alvorada"); bem como, Asuras, (deuses dos conceitos morais), tais como Mitra ("contrato"), Bhaga ("guardião do casamento") e Varuna ("senhor do Rta"). Os Vedas, os rituais védicos e as ciências auxiliares denominadas Vedangas faziam parte do currículo em universidades antigas, como
 Taxila, Nalanda e Vikramashila. 

Os vedas são compostos por quatro livros; Rigveda, Yajurveda, Samaveda, e Atharvaveda. Cada Veda foi subclassificado em quatro grandes tipos de texto: os Samhitas (mantras e bênçãos), os Aranyakas (texto sobre rituais, cerimônias, ritos de passagem como os do bebê recém nascido, a maioridade, casamentos, aposentadoria e cremação, sacrifícios e sacrifícios simbólicos), os Brahmanas (comentários sobre rituais, cerimônias e sacrifícios) e os Upanishads (reflexão sobre meditação, filosofia e conhecimento espiritual).


     
        O Rigveda Samhita é o mais antigo texto indiano existente, provavelmente, do período de 1900 a 1100 AC. É uma coleção de 1.028 hinos em sânscrito védico e 10.600 versos, organizados em dez livros (sânscrito: mandalas ). Os hinos são dedicados às divindades do Rigveda. Os livros foram compostos por poetas de diferentes grupos sacerdotais ao longo de vários séculos. O Rigveda é estruturado com base em princípios claros - começa com um pequeno livro dirigido a Agni, Indra e outros deuses. Existem semelhanças entre a mitologia, rituais e linguística no Rigveda e as encontradas nas regiões antigas da Ásia Central, Irã e Afeganistão. 
         O Samaveda Samhita consiste em 1549 estrofes, tomadas quase que inteiras (com exceção de 75 mantras) do Rigveda.
        O Yajurveda Samhita consiste de mantras em prosa. É uma compilação de fórmulas de oferta ritual que são proferidas por um sacerdote enquanto um indivíduo realiza ações rituais, como aquelas do yajna frente ao fogo. Existem dois grandes grupos de textos neste Veda: o "Negro" (Krishna) e o "Branco" (Shukla). O termo "negro" designa "a coleção não organizada e heterogênea" de versos; Em contraste, o "branco" Yajurveda (é bem arrumado). O Yajurveda Branco separa o Samhita de seu Brahmana (o Shatapatha Brahmana), o Yajurveda Negro intercala o comentário do Samhita com o do Brahmana. Do Yajurveda Negro sobreviveram os textos de quatro grandes escolas (Maitrayani, Katha, Kapisthala-Katha, Taittiriya), enquanto que do Yajurveda branco, dois, (Kanva e Madhyandina). A camada mais nova do texto do Yajurveda não está relacionada aos rituais nem ao sacrifício, inclui a maior coleção de Upanishads primários, influentes em várias escolas da filosofia hindu
        O Artharvaveda Samhita é o texto "pertencente aos poetas Atharvan e Angirasa". Tem cerca de 760 hinos, e c. 160 dos hinos são comuns ao Rigveda. A maioria dos versos são métricos, mas algumas seções estão em prosa. Duas versões diferentes do texto - o Paippalāda e o Śaunakīya - sobreviveram nos tempos modernos. O Atharvaveda não foi considerado Veda na era védica clássica e só foi aceito como Veda no final do primeiro milênio AC. Foi o último compilado, provavelmente em torno de 900 AC. O Atharvaveda às vezes é chamado de "Veda de fórmulas mágicas". A camada Samhita do texto provavelmente representa uma tradição de ritos mágico-religiosos que se desenvolveram no 2º milênio AC dirigidos à ansiedade supersticiosa, feitiços para remover doenças que se acredita serem causadas por demônios e poções derivadas de ervas como remédios.
O texto, afirma Kenneth Zysk, é um dos registros sobreviventes mais antigos das práticas da medicina religiosa e revela as "primeiras formas de cura popular da antiguidade indo-européia". Muitos livros do Atharvaveda samhita são dedicados a rituais (sem magia), e como especulações filosóficas.
        A Atharvaveda é uma fonte primária de informação sobre a cultura védica, os costumes e crenças, as aspirações e as frustrações da vida védica cotidiana, bem como às associadas aos reis e à governança. O texto também inclui hinos que lidam com os dois principais rituais de passagem - casamento e cremação.




        Upanishads: Entre os séculos IX e VIII AC foram compostos os primeiros Upanishads. Upanishads formam a base teórica do hinduísmo clássico e são conhecidos como Vedanta (conclusão dos Vedas). Os Upanishads mais antigos lançaram ataques de intensidade crescente aos rituais védicos, no entanto, um significado alegórico e filosófico é então dado a esses rituais. Em alguns Upanishads posteriores, existe um espírito de acomodação em relação aos rituais. A tendência que aparece nos hinos filosóficos dos Vedas para reduzir o número de deuses a um princípal torna-se proeminente nos Upanishads. O Bhagavad Gita sintetiza as especulações monistas dos Upanishads em uma estrutura teísta.
        Bramanismo: Na Idade do Ferro da Índia, durante um período que abrange os séculos X a VI AC, os Mahajanapadas surgem de pequenos reinos das várias tribos rigvedicas, e dos restos da cultura Harappeana decadente. Neste período, as seções de mantras dos Vedas estavam em grande parte concluídas, e floresce a formação de sacerdotes védicos, organizados em diversas escolas (shakha), que desenvolvem a literatura exegética, viz. os Brahmanas. Essas escolas também editaram as partes de mantras védicos em recensões fixas, que tinham sido preservadas pela tradição oral nos dois milênios anteriores.

Segunda urbanização (c. 600 - 200 AC)



        A crescente urbanização da Índia nos séculos VII e VI BCE levou ao surgimento de novos movimentos ascéticos ou movimento dos shramanas que desafiaram a ortodoxia védica dos sacrifícios rituais. Mahavira (c 549-477 AC), proponente do jainismo e Buda (c. 563-483 AC), fundador do budismo, foram os mais importantes líderes destes movimentos.
        A tradição dos Shramanas, fundamentada em Ahimsa (Não violência), criou o conceito de ciclo de nascimento, morte e renascimento, Samsara (roda da vida, devir); O conceito de Moksha (liberação do sofrimento e do samsara); O conceito de Karma (princípio da causalidade universal), que se tornaram característicos do hinduísmo.
        A filosofia dos Śramaṇas devido às rejeições aos Vedas foi rotulada como darsana nastika ou filosofia heterodoxa. As seguintes crenças e conceitos formaram a base comum a todas as filosofias dos Śramaṇas: Negação de um Deus criador e onipotente; Rejeição aos Vedas como textos revelados; Crença na doutrina do Karma, e no Samsara (ciclo de reencarnações); Negação da eficácia de sacrifícios e rituais para purificação; Rejeição ao sistema de castas; Crença em Ahimsa, renúncia e austeridades como purificação da alma para atingir moksa.
       O vedismo como tradição religiosa de uma elite sacerdotal do hinduísmo foi marginalizado por outras tradições como o Jainismo e o Budismo. Seu prestígio foi resgatado com a escola Mimamsa, que redefiniu a execução dos rituais védicos considerando-os como sacrifícios interiores. O último elemento sobrevivente da religião védica histórica ou do Vedismo é a tradição Śrauta.


        No período Maurya floresceu a literatura do sânscrito clássico, dos Sutras, dos Shastras e a composição dos Vedangas. Nesse período o budismo atingiu seu apogeu (e se tornou a religião dominate) com a proteção do imperador Ashoka (304 AC-232 AC) que se converteu ao budismo após a Batalha de Kalinga, onde cerca de cem mil guerreiros foram sacrificados pela ambição de um ilusório poder, levando Ashoka ao questionamento dos valores existenciais.
        O Budismo é uma religião indiana baseada nos ensinamentos de Sidarta Gautama, conhecido como Buda, floresceu durante os reinados dos imperadores Bimbisara, Ashoka, Milinda, e Kanishka, entrou em declínio e desapareceu na maior parte das regiões da Índia em torno do século 13, mas influenciou significativamente o Hinduísmo e o desenvolvimento dos sistemas filosóficos Hindus.


 Hinduísmo clássico (200 AC - 1200 DC)


        No período entre (500-200 AC) e c. 300 AC ocorreu a chamada "síntese hindu", que incorporou as influências shramanicas e o emergente movimento bhakti à tradição bramânica através da literatura smriti. Segundo Larson, os brâmanes responderam com assimilação e a consolidação. Isso se reflete na literatura smriti que tomou forma neste período. Os textos smriti do período entre 200 AC - 100 DC proclamam a autoridade dos Vedas, e sua anuência tornou-se um critério central para definir o hinduísmo contra as heterodoxias, que rejeitaram os Vedas. A maioria das idéias e práticas básicas do hinduísmo clássico derivam da nova literatura smriti. Dos seis darshanas, o Mimansa e o Vedanta "estão enraizados principalmente na tradição védica sruti e às vezes são chamados escolas smarta. De acordo com Hiltebeitel, "a consolidação do hinduísmo ocorre sob influxo bhakti". É o Bhagavad Gita que celebra essa conquista. O resultado é uma "conquista universal" que pode ser chamada de smarta que vê Shiva e Vishnu como "complementares em suas funções, mas ontologicamente idênticos", reúne a conquista da "consolidação do hinduísmo, integrando as idéias bramânicas e shramanicas com devoção teísta.
        Nos primeiros séculos da era Cristã, várias escolas da filosofia hindu foram formalmente codificadas, incluindo o Samkhya, o Yoga, o Nyaya, o Vaisheshika, o Mimamsa e Vedanta, que revitalizaram fortemente o Hinduísmo.

        "Era de Ouro" (período Gupta e Pallava) (c. 320-650 CE)

        Durante este período, o poder foi centralizado, juntamente com o crescimento do comércio à longas distâncias, a padronização dos procedimentos legais e a disseminação geral da alfabetização. O budismo Mahayana floresceu, mas a cultura Bramânica ortodoxa foi revitalizada pelo patrocínio da dinastia Gupta de orientação Vaisnava. A proeminência dos brâmanes foi reforçada, os primeiros templos hindus dedicados aos deuses das divindades hindus surgiram durante a era Gupta.


Durante o reinado Gupta, os primeiros Puranas foram escritos, e foram utilizados para difundir a "ideologia religiosa dominante entre grupos pré-alfabetizados e tribais". Os Guptas patronizaram a religião purânica recém-emergente, buscando legitimidade para sua dinastia. O hinduísmo purânico resultante, diferiu marcadamente do bramanismo anterior dos Dharmasastras e da smritis.
        O período Gupta (4º a 6º séculos) viu o florescimento da erudição, o surgimento das escolas clássicas da filosofia hindu e da literatura clássica em sânscrito tratando, em geral, de temas como medicina, ciência veterinária, matemática, astrologia, astronomia e astrofísica. Os famosos cientistas Aryabhata e Varahamihira pertencem a esta era. O Império Gupta estabeleceu um forte governo central que também permitiu um certo controle local. A sociedade Gupta foi organizada de acordo com as crenças hindus. Isso incluiu um sistema de castas estrito, ou sistema de classe. A paz e a prosperidade criadas sob a liderança Gupta permitiram a busca de empreendimentos científicos e artísticos.





        Os Pallavas (4º a 9º séculos) foram, ao lado dos Guptas do Norte, patrocinadores do sânscrito no sul do subcontinente indiano. Os Pallavas usaram a arquitetura Dravidiana para construir alguns dos mais importantes templos Hindus e escolas em Mamallapuram, Kanchipuram e outros lugares. A prática de dedicar templos a diferentes deidades entrou em voga, seguida por uma refinada arquitetura de templos e pela escultura artística.  Os Pallavas, estabeleceram os alicerces da arquitetura medieval do sul da Índia. Eles desenvolveram o script Pallava, do qual o Grantha descende. O script Pallava deu origem a vários outros scripts do sudeste asiático.

Após o fim do Império Gupta e o colapso do Império Harsha, o poder tornou-se descentralizado na Índia. Vários grandes reinos surgiram, com "inúmeros estados vassalos". Os reinos foram governados através de um sistema feudal. Reinos menores eram dependentes da proteção dos reinos maiores. A desintegração do poder central também levou à regionalização da religiosidade e à rivalidade religiosa. Os cultos e línguas locais foram aprimorados, e a influência do "Hinduísmo ritualista bramânico" foi enfraquecida. Surgiram movimentos rurais e devocionais, junto com o Shivaísmo, o VaisnavismoBhakti e TantraOs movimentos religiosos tiveram que competir por reconhecimento pelos senhores locais. O budismo entrou em declínio após o século VIII, e acabou, praticamente, desaparecendo da Índia. Como reflexo os pujas cerimoniais nas cortes no século VIII, substituíram Buda pelos deuses hindus como "a suprema deidade imperial".


Adi Shankara (séc. VIII DC) é considerado o maior expoente de Advaita Vedanta. Suas obras em sânscrito discutem a unidade do ātman e Nirguna Brahman "brahman sem atributos". Ele escreveu numerosos comentários sobre o cânon védico (Brahma Sutras, principais Upanishads e sobre o Bhagavad Gita) em apoio à sua tese. Seus trabalhos desenvolvem idéias encontradas nos Upanishads. As publicações de Shankara criticaram a escola Mīmāṃsā ritualmente orientada. Ele também explicou a diferença fundamental entre hinduísmo e budismo, afirmando que no hinduísmo "Atman (Alma, Self) existe", enquanto o Budismo afirma que não existe "nem Alma, sem self". Seu sistema marca uma mudança do realismo para o idealismo. Sua interpretação Advaita ("não-dualismo") do sruti postula a identidade entre Ser individual (Atman) e o Todo (Brahman). De acordo com Shankara, a única entidade real 'imutável' é "Brahman", enquanto as entidades mutáveis não tem existência absoluta. Os principais textos-fonte para esta interpretação, como para todas as escolas de Vedanta, são os Prasthanatrayi: Upanishads, Bhagavad Gita e o Brahma Sutras. Shankara é o fundador do Dashanami Sampradaya do monaquismo hindu e a tradição Shanmata. Shankara também é considerado o maior mestre e reformador da Tradição Smartha.



Hinduísmo Purânico


       O brahmanismo dos Dharmashastras e dos smritis sofreram uma transformação radical nas mãos dos autores dos Puranas medievais, resultando na ascensão do hinduísmo purânico, "como um bólido que atravessou o firmamento religioso indiano, e acabou ofuscando todas as religiões existentes". O hinduísmo purânico era um "sistema de crenças múltiplas que crescia e se expandia à medida que anexava e sintetizava ideias conflitantes e as tradições rituais" Distinguiu-se pelas raízes Smarta, por sua base popular, seu pluralismo teológico e sectário, sua faceta tântrica e sua configuração bhakti.
        Os primeiros puranas medievais foram compostos para disseminar a ideologia dominante religiosa nas sociedades tribais pré-alfabetizadas - como processo de aculturação. De acordo com Flood, "os Brâmanes que seguiram a religião purânica tornaram-se conhecidos como smarta". Os chefes e os camponeses locais foram inseridos no sistema varna, que era usado para manter o "controle sobre os novos kshatriyas e shudras". O grupo bramânico foi ampliado incorporando subgrupos e sacerdotes locais, levando a uma estratificação dentro da classe dos Brâmanes, alguns com status inferior a outros. Muitas religiões e tradições locais foram assimiladas ao hinduísmo purânico. Vishnu e Shiva emergiram como as principais divindades, juntamente com Sakti/Devi. Vishnu assumiu os cultos de Narayana, Jagannaths, Venkateswara "e de muitos outros". 

Movimento Bhakti



        Bhakti, literalmente, significa "apego, participação, carinho, homenagem, fé, amor, devoção, adoração, piedade". Em textos antigos como o Shvetashvatara Upanishad, o termo simplesmente significa participação, devoção e amor por qualquer tarefa, enquanto no Bhagavad Gita, representa um dos caminhos possíveis da espiritualidade em direção a moksha.
        Bhakti, também, se refere ao movimento, iniciado pelos Alvars e Nayanars, e se desenvolveu em torno dos deuses Vishnu (Vaishnavismo), Shiva (Shaivismo) e Devi (Shaktismo) na segunda metade do primeiro milênio DC. Cresceu rapidamente na Índia após o século XII nas várias tradições hindus, possivelmente em resposta à chegada do islamismo na Índia.
        Meera Bai ou Mirabai (1498-1546) foi uma poeta mística e devota de Krishna; Célebre santa Bhakti, conhecida e acarinhada na cultura do movimento Bhakti por volta de 1600 DC.
        A recente consciência 'Bhakti' (Hare Krisna-Amor devocional a Deus) já era encontrada nos primeiros Vedas, especialmente em relação a deidades como Varuna. Formas mais claras de Bhakti começaram a se desenvolver durante o Período Épico e nos períodos Purânicos da história hindu. Textos como o Bhagavad Gita e o Bhagavata Purana contemplam o Bhakti Yoga como Caminho Devocional para a uma eterna vida em êxtase (Ananda).


Novo renascimento do Hinduísmo


        Com o início do Raj britânico, a colonização da Índia pelos britânicos, também começou um renascimento hindu no século 19, que mudou profundamente a compreensão do hinduísmo na Índia e no ocidente. A indologia como disciplina acadêmica do estudo da cultura indiana a partir de uma perspectiva européia foi estabelecida no século 19, liderada por estudiosos como Max Müller e John Woodroffe. Eles trouxeram a literatura e a filosofia védica, purânica e tântrica para a Europa e os Estados Unidos. O orientalismo ocidental procurou a "essência" das religiões indianas, discernindo isso nos Vedas, e, entretanto, criou a noção de "hinduísmo" como um corpo unificado da práxis religiosa e a imagem popular da "Índia mística". Esta ideia de uma essência védica foi tomado por movimentos de reforma hindus como o Brahmo Samaj, que foi apoiada por um tempo pela Igreja Unitáriajuntamente com as idéias do Universalismo e Perenialismo, a ideia de que todas as religiões compartilham uma base mística comum. 
        O movimento social e religioso Brahmo Samaj fundado em Kolkata em 1828 por Raja Ram Mohan Roy foi influenciado pelo pensamento ocidental e levou ao surgimento da religião Brahmo em 1850 por Debendranath Tagore pai de Rabindranath Tagore.
        A Arya Samaj (Aryan Society or Society of Nobles) foi um Movimento Hindu de reforma fundado por Swami Dayananda, sannyasin que acreditou na infalibilidade dos Vedas. Dayananda defendeu a doutrina do karma e da reencarnação e enfatizou, também, os ideais de brahmacharya (castidade) e sanyasa (renúncia).
        Sri Ramakrishna e seu discípulo Swami Vivekananda promoveram uma grande reforma do Hinduísmo no final do século XIX influenciando Rabindranath Tagore, Gandhi, Subhas Bose, Satyendranath Bose, Megh Nad Saha e Sister Nivedita. Seus ideais e concepções influenciaram, também, numerosos indianos e não-indianos, hindus e não hindus. Râmakrishna, His Life and Sayings by F. Max Müller [1898]

Partição da Índia


        A Partição da Índia levou à criação em 1947 de dois Estados soberanos: o Paquistão (onde se encontram os principais sitios arqueológicos das antigas civilizações do vale do indo) e República da India.
        A partição foi estabelecida no Indian Independence Act de 1947 e resultou na dissolução do Raj britânico, como era chamado o governo britânico. Os dois países, Paquistão e Índia começaram a existir 'soberanamente' à meia-noite de 14 a 15 de agosto de 1947.
        A partição deslocou mais de 14 milhões de pessoas ao longo de fronteiras religiosas, criando uma brutal crise de refugiados nos domínios recentemente constituídos; houve violência em grande escala, massacres de quase dois milhões de refugiados. O sentimento de fúria pela divisão, pela perda dos territórios e das propriedades foram estimulados por boatos, que incitavam carnificina, e também pela pressão política de Mohamed Jinnah da liga mulçumana e Jawaharlal Nehru do partido do congresso indiano.
        Mahatma Gandhi (O grande protagonista da libertação da Índia) foi assassinado em 30 de janeiro de 1948. Seu assassino foi Nathuram Vinayak Godse, um advogado da ultra-direita nacionalista hindu, um membro do partido político do Mahasabha Hindu, e de Rashtriya Swayamsevak Sangh. Godse planejou o assassinato com pessoas de diferentes origens, incluindo um refugiado da Partição da Índia e do Paquistão em 1947. O julgamento do homicídio de Gandhi foi aberto em maio de 1948 no histórico Forte Vermelho de Delhi, com Godse o principal réu e seu colaborador Narayan Apte e outros seis como co-réus. Segundo Markovits (2004), Godse tentou ... "usar o tribunal como um fórum político lendo uma longa declaração em que ele tentou justificar seu crime. Ele acusou Gandhi de complacência em relação aos muçulmanos, culpou-o pelos sofrimentos da Partição e, em geral, criticou seu subjetivismo e pretensão de um monopólio da verdade". De acordo com J. Edward Mallot (2012), Godse culpou Gandhi por continuar a apaziguar os muçulmanos de tal maneira "que meu sangue ferveu e eu não poderia mais tolerá-lo".

Fontes / Links
History of Hinduism: Wikipedia
Wikipedia: Timeline of Indian History
Wikipedia: Indo-Aryan migration
Wikipedia: Dravidian peoples  -   Wikipedia: Indo-Aryans
Mehrgarh: Wikipedia   -   Wikipedia: India - Iran Relations
Synoptic table of the principal old world prehistoric cultures
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